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Em frente à filha, empresário leva gravata de policial e acusa agência da Caixa de racismo

Com mais de 80% da população de pessoas negras, Salvador foi palco de mais um caso de racismo. Um empresário levou uma gravata na frente da própria filha dentro de uma agência da Caixa Econômica Federal.

 

Crispim Terral, de 34 anos, esperou, sem sucesso, mais de quatro horas para ser atendido pelo gerente de conta da unidade localizada no Relógio de São Pedro, próxima do Centro Histórico da cidade. O empresário conta que recebeu atendimento inicial de um gerente chamado Mauro. Crispim Terral buscou então o gerente geral, identificado por ele como João Paulo, que o tratou com grosseria ao ser perguntado sobre o tempo de espera.

João, de acordo com a versão do homem de 34 anos, acionou um policial (branco), que deu uma gravata e retirou o homem à força. A situação aconteceu na tarde de terça-feira (19), foi gravada e as imagens divulgadas nas redes sociais pelo próprio empresário – jogado na rua com um mata-leão de um policial militar.

“Ele então acabou chamando a polícia depois que eu me recusei a sair da mesa dele. Após uma hora, os policiais chegaram no local e, à princípio, não fui maltratado. Eles quiseram me conduzir à delegacia junto com o gerente geral, mas ele afirmou que só iria se ‘esse tipo de gente’ saísse algemada. Só quem sofre o racismo, sente a dor”, contou ao Correio da Bahia.

O empresário afirma que vem, durante dois meses, tentando receber um comprovante de pagamento de dois cheques. Um no valor de R$ 1 mil e outro no de R$ 1.056. Os dois foram devolvidos pela Caixa – que alegou a falta de saldo na conta para a compensação.

Crispim contesta o banco e cobra o estorno de R$ 2.056, retirado de forma indevida de sua conta. Ele chegou a comparecer seis vezes na agência da Avenida Sete de Setembro. O empresário tomou um chá de cadeira atrás do outro. Ele estava acompanhado da filha de 15 anos e também acusa o policial militar de racismo.

 

“Também acredito que sofri racismo por parte do policial, porque sequer esbocei uma reação, estava tranquilo. Podem até pedir as imagens das câmeras de segurança do banco. Minha filha ficou em pânico”, protestou.

Crispim Terral, dono de uma rede de farmácias no Recôncavo Baiano, foi levado pelos policiais à Central de Flagrantes e autuado por desobediência e resistência. Em seguida, ele foi atendido em uma unidade de saúde e prestou queixa contra os PMs na Corregedoria da Polícia Militar na quarta-feira (20).

Nas redes sociais, o homem apontou os soldados Roque da Silva e Rafael Valverde Nolesco como culpados pelas agressões físicas dentro da agência.

Ministério Público
Ao Hypeness, o Ministério Público do Estado da Bahia disse estar investigando o caso. “O MP já foi acionado e tomaremos as medidas cabíveis”. Não custa lembrar que o órgão lançou recentemente uma campanha contra o racismo religioso e tem no quadro de funcionários a promotora de Justiça Lívia Santana Vaz – coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação. 

 

Caixa e PM
A Caixa se manifestou e afirmou por meio de nota que “até o momento não foi identificada, por parte de nenhum dos seus empregados ou colaboradores, qualquer atitude de cunho discriminatório. A CAIXA repudia atitudes racistas ou de discriminação cometidas contra qualquer pessoa”.

A Polícia Militar informa que Crispim se recusou em deixar a agência, mesmo após o fim do expediente. A força foi justificada, segundo a PM, depois de várias tentativas de conduzir o cliente para fora da agência.

“Houve a necessidade de empregar a força proporcional para fazer cumprir a ordem legal exarada, mesmo após diversas tentativas de conduzi-lo sem o emprego da força. Ele não foi algemado. O vídeo divulgado mostra uma condução técnica dos policiais militares na ação e também observa-se uma edição suprimindo parte do ocorrido”.

A agência fica próxima ao Centro Histórico de Salvador

A polícia relata ainda que uma sindicância será instaurada pelo 18º BPM para apurar as circunstâncias envolvendo a atuação policial.

O Sindicato dos Bancários da Bahia se posicionou através do presidente Augusto Vasconcelos, que afirmou repudiar qualquer tipo de preconceito. Ele confirmou reunião entre o sindicato e superintendentes da Caixa.

“O sindicato não compactua com nenhuma prática racista, inclusive temos um departamento de combate ao racismo e estamos entre as entidades que mais participam das manifestações de combate ao racismo institucional. Por outro lado, não achamos correto linchar a reputação das pessoas sem ouvir o outro lado. Compreendemos que é necessário que haja apuração antes de se emitir qualquer posicionamento. A priori, o sindicato está reunido com a superintendência da Caixa com os colegas da agência. Existem outras versões para o episódio que consideramos necessários serem ouvidas”.