Quando criança, sempre ouvi uma orientação de meus pais para que eu mastigasse pelo menos 32 vezes antes de engolir.
Naquela idade, era muito chato ter que mastigar tanto e ficar perdendo tempo na mesa, contando as mastigadas a cada garfada.
Como assim ficar mastigando desnecessariamente se com 10 mastigadas o alimento já podia (no sentido de ser possível) ser engolido?
Olha quanta vida pra ser vivida, quanta coisa pra fazer, quanta rua pra brincar…
E assim foi indo, até que a minha mastigação se tornou mais e mais superficial e cada vez mais rápida.
Junto com ela, todas as outras coisas também foram se acelerando: já não há mais tempo de “fazer nada”.
O tempo todo é preciso estar produzindo, fazendo algo, sendo útil.
Já aconteceu até de eu comer algo com tanta rapidez que eu acabei e pensei: “nossa, eu nem percebi se estava bom ou ruim”.
Foi quando eu parei para pensar no quão importante era ter mastigado com calma.
A orientação feita por meus pais na infância tinha um fundamento: quanto mais mastigada, triturada e moída, melhor seria a absorção do alimento pelo meu organismo.
Uma pesquisa realizada em 2009 comprovou: pessoas que mastigaram 10, 20 e 45 vezes um punhado de amêndoas tiveram diferenças significativas na absorção dos nutrientes e nos níveis energéticos.
Sendo um organismo integral, influenciado por diversos aspectos, nós, seres humanos, somos mais do que o que comemos – nós somos COMO nós comemos.
A mastigação é um processo que envolve agressividade (atenção para a diferença de agressividade x violência) para destruir o alimento e assim ele pode ser absorvido.
Se o alimento não é mastigado, ele entala na garganta e pode nos matar asfixiados.
Mastigar psicologicamente funciona da mesma forma: se as palavras e comportamentos do outro são “enfiados goela abaixo”, eu afogo, dói, e em muitos casos cai como uma pedra no estômago, indigesta.
Essas muitas pedras não são assimiláveis: logo, viram vômito. Precisam ser expelidas. Mas ainda assim, machuca a garganta e faz mal pro organismo.
Você está engolindo sem mastigar? Você mastiga pouco? Você mastiga? Você sente o gosto? Você aprecia? Você assimila? Você escolhe o que comer e o que jogar fora?